ARLS GUARDIÕES DO TEMPLO N. 7061 

A fundação da Guardiões do Templo

A fundação da Guardiões do Templo

 

Quanta sabedoria tiveram aqueles que conceberam os primeiros calendários agrícolas, relógios de sol e aparatos diversos que desde a aurora das primeiras civilizações permitiram às sociedades humanas domar o tempo! Não os digo sábios apenas porque manifestaram, já em eras que há muito se foram, a essência do espírito especulativo que permitiria à humanidade conceber as ciências (de sua expressão antiga à moderna), observando fenômenos do mundo material e olhando aos céus em busca de estrelas, não a fim de procurar nelas as divindades de cujas vontades decorreriam seus destinos, mas para identificar padrões e regularidades com o propósito de tomar, para si, as rédeas de sua própria sorte.

Não os digo sábios, retomando o raciocínio inicial, apenas por esta razão; mas porque ao contar o tempo, já cientes de sua condição cíclica, o eterno retorno dos fenômenos naturais deu ao Homem o poder de se emancipar dos seres míticos que concebera no imaginário coletivo, bem como de recomeçar em sua própria jornada terrena depois de cada fim de ciclo, como prenuncio de um novo tempo.

É o que significa chegar ao fim de um interstício, para então iniciar outra jornada.

Imaginemos o quão insuportável seria para as sociedades somar, indefinidamente, porções de tempo sobre mais porções de tempo sem a possibilidade de recomeçar.

Recomeçar, para o Homem, significa reinventar a si; sem fazer tábula rasa do passado, mas conceber o saber humano como cumulativo e que se chegamos a um dado grau de compreensão da realidade e da própria condição humana é porque nosso entendimento se soma à tantos outros que nos antecederam. Isso para dizer que na compreensão do hoje habitam os fantasmas do passado e que nos emprestam parte de suas consciências para vermos e lermos o mundo conforme o conhecemos no tempo presente.

Logo, ao celebrarmos o “novo”, findado um ciclo, não estamos apagando o passado ou sequer superando-o em nome apenas da renovação; é a partir dele que o recomeço se constitui num repertório de ações que se somam à todas aquelas que, antecedendo-as, doam-lhe sentidos e significados.

Não se supera o passado; aprendendo com ele, podemos superar a nós mesmos!

É o que se procede a todo fim de ciclo, quando virtuoso. Nos ciclos viciosos não se apreendem lições quaisquer do passado, se vive e revive anacronicamente nele, abominando qualquer possibilidade de futuro. Assim opera uma espécie de tradicionalismo vicioso, que distorce princípios negando-se a adequá-los às necessidades do tempo presente.

Neste amargo de um ciclo que jamais se encerra, não superam os homens a si mesmos, se mantêm agrilhoados em tradições de tal forma vazias já de conteúdos reflexivos que suas ações não detêm mais sentido algum, são meras repetições, nada mais que isso.

A cada fim de ciclo se abre uma fenda, o que não significa que estejam, todos aqueles que vislumbram sua abertura, aptos ao salto que lhes permitirá projetar-se em direção ao futuro que do outro lado irradia as luzes de novas realidades. A bem da verdade os homens, na zona de conforto dos seus vícios (que afirmam tradições!), veem essas aberturas em seguida se fecharem, ofuscados pela fulgurante visão do porvir e murmurando seus temores frente a quaisquer possibilidades de mudança, tratadas como se ameaças fossem às suas limitadas e tacanhas certezas.

Porque assim são as mentes tacanhas e limitadas que atentam contra a potencialidade que definira Einstein ao dizer que “a mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original”.

Com isso, ao dotarem o tempo de medidas, convertendo sua marcha irrefreável em entendimento racional, e este entendimento em cálculo lógico-dedutivo - dos fenômenos da natureza ao movimento dos astros -, pôde o Homem reinventar a si, na direção da superação de suas próprias contradições.

É o portal que a todos nós se abre a cada Ano Novo, aniversário, mandato, solstício, efeméride e tantos outros marcos.

O mesmo vale para nós, meus queridos e amados irmãos, ao sermos iniciados na Maçonaria, elevados, exaltados ou instalados; quando damos início a uma nova gestão de Loja, a uma Delegacia ou Secretaria, ou quando damos posse a um novo Grão-Mestrado.

O início é sempre reinício, o novo é sempre alvissareiro!

Cada início é recomeço; e como todo reinício é preciso somar o novo ao passado, recolhendo dele a experiência vivida que nos permite a mudança, esta que semeará por sua vez o futuro que haveremos de trilhar.

Para isso, é tarefa urgente distinguir o que são nossas tradições, como escola iniciática herdeira não apenas das medievais guildas e corporações de ofício (de quando convencionou-se afirmar nossa origem operativa), mas de tradições ainda anteriores, de onde emergem as ciências totêmicas e, delas, as antigas e ainda vívidas ciências herméticas, das quais a Maçonaria é apenas uma, dentre algumas outras ordens guardiãs.

É preciso então distinguir o que são as nossas tradições e o que são os nossos vícios. Não se trata de tarefa fácil, posto que nas tradições habitam significados profundos, enquanto nos vícios residem distorções desses mesmos conteúdos, leituras equivocadas, deturpações de toda sorte, conveniências, empoderamentos ou simplesmente não há sentido algum, senão o erro, do crasso àquele escamoteado pelo discurso empolado do pseudo-especialista.

E nos importa saber o que são nossas tradições pois preservá-las é dever nosso para com os nossos antepassados; da mesma forma que devemos, aos mesmos, a tarefa da depuração do que são legados seus e do que é mero senso comum, “achismos” ou mesmo regras inventadas e que não aparecem em nenhuma norma ou Landmark, à revelia portanto dos nossos regramentos, como instrumentos egóicos dos nossos vícios e vaidades, usuais para a afirmação de pretensiosas autoridades ou ambiciosas aspirações de poder.

Como canta o hino à Maçonaria: “humanos sacros direitos, que calçará a tirania, vai ufana restaurando, a pura Maçonaria”. É parte das nossas obrigações!

Por isso, da depuração das nossas tradições, é preciso ter conosco, como linhas-guias para a sistematização dos nossos labores no Rito Escocês Antigo e Aceito, não apenas as nossas normas e leis, mas toda a carga de ensinamentos filosóficos e espirituais, ocultos em símbolos e alegorias, postos em marcha por nossa ritualística, a fim de fiarmos nelas as nossas ações.

É o que pretendemos, humildemente, nesta Oficina de Pedreiros-Livres!

 

Texto do Ir:. Rodrigo Medina Zagni (M:. I:.)